quarta-feira, 25 de março de 2015

DONS



Fui desfeito em feitos

Que não foram meus

E disforme em formas

Que não me compõem.



Aos que me dispõem

A não ser mais eu,

Que façam de seus,

Meus forjados dons.

FALSA CARIDADE

Sou cativo em meu mundo de escolha.

Ando à toa

A procura de serviço.

Eu caminho cabisbaixo, submisso,

Por calçadas apinhadas de pessoas,

Habitantes dessa fingida cidade

Onde a falsa caridade

Me perdoa.

CASA AMARELA

Aquela casa amarela

Já desbotada de velha,

Ainda hoje revela

Uma beleza singela

Mesmo em meio ao capim.



Aquela casa sem mim,

Já não conserva

As cores do seu jardim.



O medo de desbotar-me

Faz-me perder o colorido.

DUVIDOSAS LEMBRANÇAS


Por mais que tentemos dar sentido aos nossos dias

Entre tristezas e alegrias,

Entre música e silêncio,

E por mais que não percebamos o tempo

Que inevitavelmente nos acompanha,

A vida é um apanhado de perguntas sem respostas

E duvidosas lembranças.

SOMBRIO RASCUNHO

Sob o sombrio rascunho
Do anonimato, insisto
Que existo, sinto muito, mas existo.

No umbral da porta hesito
E me pergunto:
Saio ao mundo ou me afundo
Nessa casa que habito?

Se não é casa é hospício
Como também é o mundo.

Sob o sombrio rascunho
Do anonimato, insisto
Que existo, sinto muito, mas existo.

EM REFLEXÃO

Às vezes, em reflexão,
Não creio ser o mundo são,
Se a humanidade é meio louca.

A sua lucidez é pouca
Pro vasto campo de visão
Ao alcance da razão
Entre a opção e a escolha.

Ante tamanha evolução,
Na primitiva adoração,
No culto e divinização,
A humanidade é muito tola.

DISFARCES

Se eu mudasse a minha face

E disforme,

Não me reconhecesse

(Quando me fitasse

Na superfície do espelho)

No Eu que veria a si mesmo,

Seríamos nós sem sermos,
Pois ambos somos disfarces.

NOITE ALUCINANTE



Foi numa noite alucinante,

Jeová no saxofone,

Los Angeles tocando trombeta,

Jesus cantando blues,

O culto de casa cheia.



E em meio à euforia:

Aleluia, aleluia, alegria...

Eis que falta energia.

Uma escuridão eterna

Em nossa congregação.

Lúcifer com sua lanterna

Foi a nossa salvação. 

SOMOS NÓS DOIS

 Saímos de casa a sós, A procura de nós mesmos. Encontramos um ao outro, Sem temores, nem segredos. Na união de nós dois, Vislumbramos um ca...