quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A praça da estação






Um banco em solidão,
Sempre a espera de alguém.
A velha praça também,
Enfrenta a desolação.
Qual seria a razão
Para não sentar ninguém
Na praça da estação?

Quantas viagens de trem.
Desengates de vagão.
Num incrível vai-e-vem,
Bolsas e malas na mão.
O tempo pôs em silêncio,
A praça da estação.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

VOO DE RECONHECIMENTO






            Na pista de pouso e decolagem da Base Aérea Albatroz nas proximidades da província de Negar, o caça Otan-1 alçava voo para uma operação aérea  tática, cuja tripulação era composta pelo piloto Capitão Estrabão Tortelos e o navegador primeiro Tenente Olhizaino Zâimbo.
            - Atenção torre pedindo permissão para manobra de decolagem, Capitão Tortelos, caça Otan-1, operação de reconhecimento.
            - Capitão Tortelos, o caça Otan-1 tem a decolagem autorizada. Ecoou uma voz no rádio da aeronave.
            Saindo da pequena aldeia de Poeira em busca de água na Lagoa da Miséria, o lugar mais próximo para obtenção de àgua, que fica numa distância de aproximadamente seis quilômetros, Uzuri com sua filha Hidi e muitas outras com suas crianças, ao final da tarde, a vermelhidão do sol se pondo no ocidente, caminham no arrastar de sandálias de sola de couro de camelo enquanto o vento ainda quente levantava o pó de areia como se fosse uma leve fumaça de uma chaminé.
            - Hidi filha, já está muito escuro, vem pra perto da mamãe.
            A pequena Hide corre em direção à sua mãe no exato momento em que elas escutam o barulho de um avião nas proximidades.
            No caça Otan-1, o capitão Tortelos percebe a movimentação nas proximidades da Lagoa da Miséria com o infra vermelho da aeronave, comunica imediatamente à torre o ataque a possíveis terroristas carregando cargas explosivas, provavelmente nitroglicerina. O primeiro tenente Olhizaino confirma com um aceno que a suspeita tem procedência. Depois da autorização para o ataque, o Otan-1 se posiciona e lança o míssil em direção ao alvo.
            O encantamento sob a visão daquela luz extremamente veloz em sua direção, faz com que a pequena Hidi pare boquiaberta antes de alcançar os braços da mãe que mesmo antes de se voltar toma consciência do que ocorre.
            - Missão cumprida Comando, o ataque foi um sucesso, alvo atingido, sem sobreviventes. Soa a voz do Capitão Tortelos enquanto satisfeito pelo cumprimento do dever, sorri o primeiro tenente Olhizaino.
            De volta à base aérea de Albatroz, o caça Otan-1 aterrissa com sucesso. Todos os outros companheiros pertencentes ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeiras de Reconhecimento Tático cumprimentam com efusão o capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino.
            Na manhã seguinte a notícia desastrosa, um caça de reconhecimento dizima mulheres e crianças nas proximidades da Lagoa da Miséria, um desastre sem precedentes, houve uso de míssil. A comunidade chora e pede justiça.
            No entanto, sendo os responsáveis pela tragédia, militares a serviço de uma organização internacionalmente poderosa, ninguém é punido, ao contrário:
- Capitão Estrabão Tortelos pede autorização à torre para decolagem do caça Otan-2.
            - Autorização concedida, Capitão. Ecoa na aeronave. 
            Em mais um voo de reconhecimento parte da base aérea Albatroz o caça Otan-2 com a mesma tripulação do antigo caça Otan-1: Capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino.
            A aproximadamente onze horas da noite, a uns oito quilômetros de Pinda, pequeno povoado não muito longe da aldeia de Poeira, havia um grupo de caçadores, crianças e jovens adolescentes, os mais novos usavam estilingues e os outros espingardas de ar comprimido. 
            O jovem Zalmai brincava com seu irmão Zelgai de apenas doze anos, que ele com seu estilingue, só matava calango quando devia matar passarinhos.
            - Eu derrubaria até um avião com a minha baladeira. Diz em resposta ao seu irmão, sorrindo, Zelgai.
O garoto Zemar que tinha a mesma idade de Zelgai grita: - Aí vem seu avião, derruba-o agora.
            Realmente nesse exato momento sobrevoava-os o caça Otan-2 pilotado pelo Capitão Tortelos e seu primeiro Tenente Olhizaino, desta vez o primeiro também em perceber possíveis terroristas:
- Capitão Tortelos, deu para ver nesse vou rasante que realmente são terroristas armados com rifles poderosíssimos e uma curiosa arma talvez usada para lançamentos de mísseis.
            - Por ser tarde da noite, mesmo examinando-os através do infravermelho, vamos usar as metralhadoras em vez de míssil, lembra-se da última vez, todos disseram que foi exagero. Diz o Capitão Tortelos.
            - Nesse ponto o Capitão tem razão, manda bala, passa fogo nesses terroristas de merda. Grita o primeiro Tenente Olhizaino.
            Os meninos olhando para o céu escuro gritam entusiasmados no segundo rasante do caça Otan-2, apenas que dessa vez, mal dá tempo a Zelgai por a pedra na funda da atiradeira, esticar e fazer pontaria pela forquilha tendo como alvo a aeronave. A sua pedra vai de encontro a uma infernal saraivada de bala advindo da metralhadora do avião de caça. 
            De volta à base aérea, como da outra vez, o Capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino, são saudados com euforia por seus companheiros pertencentes ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeira de Reconhecimento Tático.
            No outro dia, pela manhã, corre a desagradável notícia de que um caça de reconhecimento, desta vez executou a tiros, cinco jovens que estavam caçando passarinho à noite, e usavam espingarda de seta e baladeira. Um desastre, agora com precedentes. A comunidade mais uma vez chora consternada com o absurdo e exige justiça.
            - Primeiro Tenente Olizaino, aqui pra nós, os poderosos rifles eram espingardas de seta, e a curiosa arma lança míssil era baladeira, e os nossos terroristas eram apenas crianças. E agora? Fala desgostoso o Capitão Tortelos.
            - Meu Capitão Tortelos, gente inocente esses terrorista matam a torto e a direito, todos os dias. Errar, Meu Capitão Tortelos, é humano. Além do mais, por que diabos esses meninos foram caçar tarde da noite. Exalta-se o primeiro tenente Olizaino.           - Primeiro tenente, sabe que tem razão, não é a toa que pertencemos ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeira de Reconhecimento Tático. Esbraveja com orgulho Tortelos. 
            Quem sabe, depois de dois assassinatos de extrema perversidade contra civis jovens, mulheres e crianças, sirva de lição para que se evite repeti-los.
            - Torre, aqui é o Capitão Tortelos do Otan-3 pedindo permição para voo noturno de reconhecimento...

O SUMIÇO DE CAGUIRA





            A sirene do carro de polícia ecoa na noite fria, as luzes dançam na escuridão do Morro da Esmola, os rapazes que estavam na Pracinha do Medo, se espalham com medo, não da pracinha, mas sim dos tiras. Nesse ínterim, na Rua da Derrota, alguém caminha em paz, despreocupado, não andava armado, sabia o que todo mundo sabia ali no morro, mas não era maluco de comentar nada.
            - Para aí, encosta, encosta, um suspeito. O Capitão Cristalino fala ao soldado Fubeca que dirige a viatura.
No banco de trás estão sentados o cabo Bordoeira e o também soldado Bordina. Todos descem do veículo de armas em punho, e gritam para o sujeito que caminhava em paz, deitar no chão com as mãos afastadas do corpo.
Enquanto o cabo Bordoeira revista o rapaz que está desarmado e estatelado no chão, os outros apontam seus revólveres para o dito suspeito.
- Capitão, o suspeito está desarmado. Aqui estão os documentos dele. Diz o cabo Bordoeira estendendo a mão para o  Capitão Cristalino.
            - Seu nome vagabundo e o que faz? Pergunta o Capitão.
            - Meu nome é Caguira, sou vagabundo não doutor, sou ajudante de pedreiro, trabalho com pedra de alicerce, com pó de cimento...
            É interrompido pelo chute entre as pernas dado pelo Capitão Cristalino que ao mesmo tempo fala:
- Eu sabia que era traficante, na gíria dos bandidos:  pedreiro é traficante, pedra é craque e pó é cocaína. Leva o meliante, põe na viatura e baixa o cassete.
            O percurso da Pracinha do Medo no Morro da Esmola até a sede da SM (Sede de Matar) se torna dez vezes mais distante para o Caguira que apanha tanto quanto chora, peida, grita, se caga e se mija. Somente o motorista soldado Fubeca não bate por que não pode soltar o volante, mas mesmo assim, se vira e cospe no rapaz que sangra por tudo quanto é buraco.
            Chegando à sede da SM, o Major Patego e mais o tenente Rabuja e os soldados Labrego e Rezingão, recebem o suposto traficante, ou ajudante de traficante, e continua a pancadaria. No interrogatório, sob tortura, não era possível ao Caguira responder às perguntas que vinham acompanhadas de bordoadas, porém com muito esforço ele ainda consegue murmurar: - Por favor, chamem a polícia, estou sendo ...
            É calado por um golpe de misericórdia de um dos policiais que ao ouvir o que ele dizia achou que era piada.
            Prática muita usada pelos traficantes, e de tanto usada foi aprendida pelos fardados, é a ocultação de cadáver, se é que se possa chamar o que restou do ajudante de pedreiro Caguira de cadáver, estava mais pra sopa cadavérica.
            Tirocínio constante na sede da SM, nenhum dos fardados se preocupou com o que poderia acontecer, mas aconteceu, o rapaz realmente era inocente, coisa que eles já sabiam, mas não sabiam que ia dar tanta repercussão na mídia.
            Uma boa estória foi inventada, além de coação a testemunhas, e outros males do ofício de quem é pago para servir  ao povo, mas não dessa forma claro.
            De acordo com os fardados envolvidos no sumiço do ajudante de pedreiro Caguira, o mesmo teria saído caminhando e teria descido os degraus da escadaria que havia na saída da sede da SM, onde haviam duas câmeras quebradas, que eles tinham conhecimento; no entanto, havia uma terceira câmera, que eles não tinham conhecimento, no final da dita escadaria que conseguiu filmar a saída de Caguira. Não serviu como prova de defesa aos fardados porque quem desceu a escadaria foi a alma de Caguira, e a gente sabe que não se filma alma.

SOMOS NÓS DOIS

 Saímos de casa a sós, A procura de nós mesmos. Encontramos um ao outro, Sem temores, nem segredos. Na união de nós dois, Vislumbramos um ca...