sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

SOMOS NÓS DOIS

 Saímos de casa a sós,

A procura de nós mesmos.

Encontramos um ao outro,

Sem temores, nem segredos.

Na união de nós dois,

Vislumbramos um caminho,

Deixamos de andar sozinhos,

De esperarmos o depois.

Não sou eu, não é você, somos nós dois.

DE OLHOS ABERTOS NO ESCURO

 E no silêncio, desperto,

De olhos abertos no escuro,

Uma silhueta procuro,

Você não está por perto.

E vivo no mesmo inferno

De solidão e sepulcro,

Ao rés do chão, em meu luto

De culpa, pena e tédio.

Na ilusão, um mistério,

O seu sumiço obscuro.

Na realidade, um descuido

Ao tentar levar a sério,

Uma relação sem remédio,

Sem salvação, sem indulto.

DIGNO DE CULPA

 Se uma parte de mim se recusa

Ao que eu por inteiro permito,

Não consigo ser digno de culpa,

Nem desculpa, pedir admito.

Se ouvir um pedido de ajuda,

Se faz surda à premência do risco.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

TALVEZ SEJA A ÚLTIMA NOITE

    Da janela que se abre,

Não me interessa a rua.

E a casa ainda escura,

Já não me cabe.

Talvez seja muito tarde

Para escolhas taciturnas.

Minha dor não me situa,

Por sofrer em qualquer parte.

Quem espera, não me aguarde.

Não me guardo em reserva,

Sou o pouco aqui deixado,

Mal ocupo um espaço

Nessa vida que me resta.

SOTURNO

O que fiz dos meus dias?
Fiz deles noites que não dormi bem.
Noites escuras e frias,
Que viraram dias, também.

NOS MEUS ATOS

Nos meus atos,
Eu desfaço desafetos
Que detesto por acaso.
Meus afetos,
Os afasto por descaso.
Ou no caso é o inverso,
Eu desfaço meus afetos
Nos meus atos
E afasto os desafetos
Por descaso?

domingo, 10 de abril de 2022

Faz-se silêncio

Enquanto se move em silêncio,
O tempo remove os remorsos.
Os vivos são outros se mortos,
Deitados em membros dispersos,
Deixados em velhos intentos,

(Talentos de lentos esforços)

Suportam o peso do ócio,

Sufocam o peito dos moços

Aos olhos dos ressentimentos

Reflexos de olhos fitos

Que bem não traz acalanto…
Para calar esse pranto
Enquanto a voz dá alento.

Para cortar esses laços em nós

Que somos os dois,

Cada um, depois,

Será só seu.

E quando em si mesmos,

Seremos espelhos,

Reflexos de olhos fitos

Pelo medo de se vêem.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Abrigo encantado

Pelas velhas janelas, 
O casarão me observa.
Com a porta aberta, 
Sorri desdentado. 
Abrigo encantado, 
Que o mundo despreza.
Foi salão de festas,
Palco iluminado.
Hoje, abandonado, 
O mato lhe cerca, 
A chuva atravessa 
O antigo telhado, 
O vento soprado 
À noite, revela 
Que em sua miséria, 
É mal assombrado.

Sepultamento

Os meus olhos pregados
no infinito
como os pregos nas tábuas
cravejados,
e de pontas viradas,
redobrados,
sustentados e fixos
numa curva.
No aconchego da madeira macia,
minhas costas
nos ossos da bacia
consolam meu corpo
tão curvado.
Pelo tempo que tenho acumulado,
a ferrugem do mundo
me comeu,
e a tampa que pregam
me prendeu
para sempre num rito consumado.
Por debaixo da terra
condenado
a ser parte da mesma
e não ser eu.

Ante o passar dos anos

Quando nos apaixonamos,
Eu dizia: eu te amo,
Toda hora, todo dia.
Nossa casa se enchia
De eu te amo.
Mas o tempo foi passando,
O eu te amo sussurrando,
Pouco a pouco mal se ouvia.
O que a gente não sabia
Era que se calaria
Ante o passar dos anos.
Não por nossos desenganos,
Nem pela monotonia.
Mas por simples agonia,
Silencia,
Sem que nós nos percebamos.

SOMOS NÓS DOIS

 Saímos de casa a sós, A procura de nós mesmos. Encontramos um ao outro, Sem temores, nem segredos. Na união de nós dois, Vislumbramos um ca...