Minha mão estendida a
pedir esmola.
Seu filho na escola,
à espera de um mundo mais
humano.
As nossas chances são
poucas.
As nossas vozes estão
roucas.
Eu deitado sob um velho
banco,
sob o efeito do álcool,
um alucinado sono de uma
mísera escolha
pelo dedo indicador de um
deus que me acusa por ser racional.
Uma criança chora de
fome,
enquanto os tolos
momentos são festejados com brindes e músicas
teatrais.
Para nós,
pobres animais
que labutam por toda a
sua vida por um futuro melhor
e acabam como um parasita
intestinal
que à procura de comida
se digladia em vísceras alheias,
saúde!
A nossa plenitude
acaba no céu da boca de
um herbívoro
que mastiga indefinidas
vezes a nossa nova forma.
Nada é tão rude quanto o
desenvolvimento tecnológico,
que sobre a égide do
pensamento humano
comercializa as imagens
da miséria planetária.
Somos internacionalmente
conhecidos,
seríamos reconhecidos por
nossos trapos
e nossos olhos de
ressaca,
em qualquer lugar do
mundo moderno.
Em rede, não tiramos mais
um cochilo,
ao contrário, nos
mantemos acordados.
E sob nossa vigília
estão nossos momentos de
glória,
a nossa história é
reprisada em rápidas cenas do cotidiano.
Talvez estejam nos
assistindo agora,
enquanto muda a sua roupa
ou mesmo quando ainda
está no banho.
Somos ambíguos,
planejamos uma viajem de
férias à lua
e nos matamos na rua
por uma simples dose de
ódio.
Quando queremos ver,
acendemos as luzes,
quando não,
fechamos os olhos.
Gostamos de marcar nossas
covas com cruzes,
elas representam o nosso
remorso.
Os nossos bustos são para
ativar nossa memória,
não são para aparar
dejetos de pombos,
embora pareça o
contrário.
Criar canário em gaiola é
coisa do passado,
eles agora são
empalhados.
Eu ou você
poderíamos correr em
volta do planeta,
descalços, seminus, sem
comer ou beber;
seriamos manchetes nos
jornais,
e além do mais,
teríamos os nossos nomes
no livro dos recordes.
Há quem viva em função de
uma causa,
e que nada,
nada mesmo, mudaria seu
caráter,
a não ser a cadeira do
poder.
Eu não quero ouvir dizer,
basta os que sabem que
são tolos
e que sábios querem ser.
Abotoem as braguilhas,
dizem os homens de fé,
com a fé em pé de guerra.
Atrasaram meu relógio,
com a bela desculpa de
que eu chegaria muito cedo.
Nossa bandeira tremula no
palácio.
É alvorada!
Gritava toda a gente.
E na bandeira eu enxugava
minhas lágrimas,
descrente.
Algemam crianças em
trabalhos forçados.
Aliciam suas pequenas
bonecas.
Se digladiam no plenário,
como piranhas em sangue
fresco.
E apesar de tudo isso,
ainda querem
ridicularizar meu ópio.
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