terça-feira, 17 de setembro de 2013

O ESCULÁPIO E O POETA



-Não importa quem eu sou.

Antes de falar meu nome,

não esqueça “o doutor”.

Estudei na capital,

não foi no interior.



-Eu não quero ser o tal,

sou apenas um poeta,

me orgulho de quem sou,

minha alma não se aquieta

se em casa não estou.



-Sou jovem e bem sucedido.

Salvarei seu coração

se ficar comprometido.

Controlo a emoção.

Salvo vidas, como médico.



-O poeta é mais modesto.

Só me lembro de um poema

que evitou um suicídio.

De coração não entendo,

só quando muda o sentido.





-Isso sim, não faz sentido,

ter tanta inspiração.

Se fosse um grande poeta,

demoraria na certa,

a fazer versos à mão.



-Orgulhoso ficaria,

se poetinha me chamasse.

Muito mais fez o Pessoa,

se o doutor mais estudasse,

desse fato, saberia.



-Não seja bobo, não ria.

Não tem nada de engraçado.

Sou um homem respeitado.

Muita gente rezaria

pela minha companhia.



-Disso eu não duvidaria.

Na hora da precisão,

todo louco tem razão ,

cada um com sua mania.



-Sou um homem preparado.

Por muitos sou procurado,

quase todo santo dia.

Estou sempre acompanhado

por gente que tem valia.



-Eu tenho por companhia,

o silêncio e a solidão,

ambos trazem poesia

e entregam à minha mão,

meu trabalho é muito pouco,

basta que eu seja louco

e escreva com emoção.



- Finalizemos enfim,

essa nossa discussão.

Como eu sou o doutor,

prova que tenho razão.



- Não digo que sim, que não.

Digo com sinceridade,

como poeta sou louco.

Loucos, sei, não têm razão.

Mas doutor é muito pouco,

pra ser dono da verdade.

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