terça-feira, 28 de janeiro de 2014
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Desabafo de um herói
Entre marcos, fui herói.
Onde há heróis também há vítimas.
E quando vencedor,
perdi a ilusão de achar que vencia.
Desconhece essa dor
quem não sabe o valor
que tem a conquista.
Ser herói de verdade é uma grande mentira.
Não sei qual o pior,
se a fé ou a glória.
Sei que é muito melhor
só sonhar com a
vitória.terça-feira, 14 de janeiro de 2014
DÚBIA EXISTÊNCIA
Toda essa miséria é
relegada
Aos pés da indiferença
E do silêncio.
Assim como eu, são
tantos outros,
Sem o menor esforço
Para dirimir o
sofrimento,
Para uma mais justa
equivalência.
Não me aborreça, não me
ofenda
Com essa fervorosa
crença
Em um deus que é muito
pouco
Para a minha
inteligência.
A subserviência,
Deixar-me-ia louco.
Não há conforto para um
morto,
Sua dúbia existência. SONETO À PEQUENA VITÓRIA
Num
improviso de palavras mal faladas.
Desprende
o choro sem o mínimo motivo,
Em
soluços sem ter lágrimas.
Os
seus passinhos que se perdem pela casa,
Deixam
pra trás os mimos de minha anuência.
Em
cada gesto, soa desobediência.
Com
resistência, aos poucos cede e se acalma.
Abandonado
à mercê do alheamento,
Voo
sem asas, através de seus momentos,
Livre
do tempo das horas cronometradas.
Tão
encantado, digo o que estou vivendo.
Na
ilusão de que está compreendendo,
Com
as mãos na boca, solta lindas gargalhadas.quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Operações
Ainda procuro
Migalhas de pão no caminho.
Não volto sozinho,
Há sempre alguém no escuro.
Na soma de tudo,
Sou múltiplo.
Que subtraído
É resto.
Que se dividido,
Se perde na multidão.
Apertos de mãos,
Estranhos que são vizinhos.
Que andam sozinhos
Seguindo a mesma direção.
Migalhas de pão,
Não há mais no caminho.
Em goles de vinho,
Entre flores e espinhos,
Espeto o meu coração.domingo, 5 de janeiro de 2014
ROSTO
Fujo desse rosto que me
intriga
Numa acusação desmedida
de meus erros.
Julga ter direitos em
cobrar-me uma conduta
Que me livre de uma
culpa
Que não cabe em si
mesmo.
Passo os dedos entre os
meus cabelos,
Afastando o peso da
memória.
Vejo que o espelho já
não chora
Na esperança que agora
Eu atenda aos seus
apelos.
EXPOSTO AO RIDÍCULO
Falar de amor
É se expor ao ridículo,
Posto ser o romantismo
Algo há muito
ultrapassado.
Hoje, o termo adequado
É ficar, somente isso.
Sem vínculo, sem
compromisso,
Sem flores e sem
recados,
Os beijos são
decorados,
Acabou-se o improviso.
Ambos seriam submissos
Se estivessem
apaixonados.
Ele e ela são levados
A tornarem-se
promíscuos
Em um sexo sem o risco
De acabarem-se casados.
O ÚNICO DA CASA
Eu
sou o único da casa
Que
não precisa de alma,
Que
não aceita doutrina.
Enquanto
estão todos na cozinha,
Eu
permaneço na sala.
Talvez
eu seja um fantasma,
Enquanto
a vida ainda é minha.
A
mãe se encontra sozinha,
Sob
uma cruz lapidada.
O
pai, às vezes, dá asas
A
sua fé repentina.
A
irmã mais velha se anima
Com
seus espíritos e carmas.
A
outra, a portas fechadas,
Reza
uma salve rainha.
Um
dos irmãos na esquina,
Grita
que o mundo se acaba.
O
outro, de casa em casa,
Testemunha
a própria sina.
Todos
permanecem ainda
A
procura de uma aura.
Eu
sou o único da casa
Que
não precisa de alma,
Que não aceita doutrina.
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