quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Desabafo de um herói


Entre marcos, fui herói.
Onde há heróis também há vítimas.
E quando vencedor,
perdi a ilusão de achar que vencia.
Desconhece essa dor
quem não sabe o valor
que tem a conquista.
Ser herói de verdade é uma grande mentira.
Não sei qual o pior,
se a fé ou a glória.
Sei que é muito melhor
só sonhar com a vitória.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

DÚBIA EXISTÊNCIA




Toda essa miséria é relegada
Aos pés da indiferença
E do silêncio.
Assim como eu, são tantos outros,
Sem o menor esforço
Para dirimir o sofrimento,
Para uma mais justa equivalência.

Não me aborreça, não me ofenda
Com essa fervorosa crença
Em um deus que é muito pouco
Para a minha inteligência.

A subserviência,
Deixar-me-ia louco.
Não há conforto para um morto,
Sua dúbia existência. 

SONETO À PEQUENA VITÓRIA

Tanta pureza iluminada ao seu  sorriso
Num improviso de palavras mal faladas.
Desprende o choro sem o mínimo motivo,
Em soluços sem ter lágrimas. 

Os seus passinhos que se perdem pela casa,
Deixam pra trás os mimos de minha anuência.
Em cada gesto, soa desobediência.
Com resistência, aos poucos cede e se acalma.

Abandonado à mercê do alheamento,
Voo sem asas, através de seus momentos,
Livre do tempo das horas cronometradas.

Tão encantado, digo o que estou vivendo.
Na ilusão de que está compreendendo,
Com as mãos na boca, solta lindas gargalhadas.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Operações


Ainda procuro
Migalhas de pão no caminho.
Não volto sozinho,
Há sempre alguém no escuro.

Na soma de tudo,
Sou múltiplo.
Que subtraído
É resto.
Que se dividido,
Se perde na multidão.

Apertos de mãos,
Estranhos que são vizinhos.
Que andam sozinhos
Seguindo a mesma direção.

Migalhas de pão,
Não há mais no caminho.
Em goles de vinho,
Entre flores e espinhos,
Espeto o meu coração.

domingo, 5 de janeiro de 2014

ROSTO


Fujo desse rosto que me intriga
Numa acusação desmedida de meus erros.
Julga ter direitos em cobrar-me uma conduta
Que me livre de uma culpa
Que não cabe em si mesmo.
Passo os dedos entre os meus cabelos,
Afastando o peso da memória.
Vejo que o espelho já não chora
Na esperança que agora

Eu atenda aos seus apelos.

EXPOSTO AO RIDÍCULO


Falar de amor

É se expor ao ridículo,
Posto ser o romantismo
Algo há muito ultrapassado.
Hoje, o termo adequado
É ficar, somente isso.
Sem vínculo, sem compromisso,
Sem flores e sem recados,
Os beijos são decorados,
Acabou-se o improviso.
Ambos seriam submissos
Se estivessem apaixonados.
Ele e ela são levados
A tornarem-se promíscuos
Em um sexo sem o risco

De acabarem-se casados.

O TEÍSTA


O que pretende o teísta
Com sua fé desmedida?
Sua ganância é explícita
Até mesmo em salvar almas.
Se não pode conquistá-las
Com sua boca maldita,
Arrogante, se excita

Ao prazer de condená-las.

O ÚNICO DA CASA



Eu sou o único da casa
Que não precisa de alma,
Que não aceita doutrina.
Enquanto estão todos na cozinha,
Eu permaneço na sala.
Talvez eu seja um fantasma,
Enquanto a vida ainda é minha.
A mãe se encontra sozinha,
Sob uma cruz lapidada.
O pai, às vezes, dá asas
A sua fé repentina.
A irmã mais velha se anima
Com seus espíritos e carmas.
A outra, a portas fechadas,
Reza uma salve rainha.
Um dos irmãos na esquina,
Grita que o mundo se acaba.
O outro, de casa em casa,
Testemunha a própria sina.
Todos permanecem ainda
A procura de uma aura.
Eu sou o único da casa
Que não precisa de alma,
Que não aceita doutrina. 

SOMOS NÓS DOIS

 Saímos de casa a sós, A procura de nós mesmos. Encontramos um ao outro, Sem temores, nem segredos. Na união de nós dois, Vislumbramos um ca...