domingo, 5 de janeiro de 2014

O ÚNICO DA CASA



Eu sou o único da casa
Que não precisa de alma,
Que não aceita doutrina.
Enquanto estão todos na cozinha,
Eu permaneço na sala.
Talvez eu seja um fantasma,
Enquanto a vida ainda é minha.
A mãe se encontra sozinha,
Sob uma cruz lapidada.
O pai, às vezes, dá asas
A sua fé repentina.
A irmã mais velha se anima
Com seus espíritos e carmas.
A outra, a portas fechadas,
Reza uma salve rainha.
Um dos irmãos na esquina,
Grita que o mundo se acaba.
O outro, de casa em casa,
Testemunha a própria sina.
Todos permanecem ainda
A procura de uma aura.
Eu sou o único da casa
Que não precisa de alma,
Que não aceita doutrina. 

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